quinta-feira, 12 de abril de 2012

Conceito de período crítico e período sensível

O ser humano, ao longo do seu desenvolvimento desde a vida intrauterina até ao seu estado “adulto”, apresenta períodos de tempo em que há uma enorme potencialidade para a assimilação e aprendizagem de um determinado comportamento ou competência, isto é, existem períodos em que o individuo está mais suscetível a determinada influência externa. Estes são os chamados períodos críticos ou períodos sensíveis.
É, antes de mais, imprescindível fazer a distinção entre período crítico e período sensível. Por um lado, o conceito de PERÍODO CRÍTICO engloba o período de tempo em que um certo processo é afetado irreversivelmente e está relacionado com a aquisição de aspetos relacionados com a biologia, ou seja, mudanças ao nível do crescimento, maturação e desenvolvimento. Estes períodos devem acontecer na vida intrauterina do ser humano e atuar nos processos reguladores do crescimento. Por exemplo, o desenvolvimento dos órgãos sexuais no feto deve ocorrer entre a 6ª a 7ª semanas após a sua conceção. Por outro lado, o conceito de PERÍODO SENSÍVEL engloba o período ótimo em que a aprendizagem de habilidades ou desenvolvimento de aptidões e competências se faz de modo mais facilitado. Estes períodos sensíveis devem ocorrer no desenvolvimento humano pós-natal. Por exemplo, a estimulação da linguagem deve acontecer nos primeiros doze anos de vida.
Um ser humano que não adquira um dado processo/competência/comportamento no período de tempo ótimo estabelecido para a sua obtenção, poderá aprendê-lo, mas nunca com a mesma eficácia ficando sempre com mazelas e em défice em relação a uma pessoa que a assimile na altura devida.
O ser humano tem de possuir uma maturação e desenvolvimento corretos de todo o seu organismo (sistema nervoso central e periférico, músculos, coração, pulmões, entre outros) para que os estímulos provenientes do meio possam gerar a aprendizagem de comportamentos ou competências.
É de realçar que, caso essa estimulação não ocorra no momento correto, podem ocorrer perturbações biológicas, psíquicas, sociais e até mesmo, atrofiamento físico. 
Em síntese, é nos períodos críticos/sensíveis que o ser humano está mais suscetível às influências do meio e, por isso, é nestas alturas que devem ocorrer estimulações para que se verifique um desenvolvimento normal. É também de salientar que existem vários períodos críticos/sensíveis para as diferentes competências/habilidades.


Crianças Selvagens, os casos de Genie e Victor

Será preciso admitir que os homens não são homens fora do ambiente social, visto que aquilo que consideramos ser próprio deles, como o riso ou o sorriso, jamais ilumina o rosto das crianças isoladas.
Lucien Malson, Les Enfants Sauvages

Crianças selvagens: são crianças que nos primeiros anos de vida viveram em completo isolamento da sociedade ou, se estiveram em contacto com seres humanos, esse contacto foi insignificante. A vida dessas crianças poderá equiparar-se à dos animais, já que os seus comportamentos são em tudo semelhantes. São crianças que não falam nem, tão pouco, se deslocam como seres humanos normais. No que diz respeito à linguagem em concreto, elas, geralmente, apenas conhecem a mímica e os sons dos animais, particularmente os da sua “família de acolhimento”. Quando essas crianças regressam à sociedade, a sua capacidade para aprender uma língua varia bastante: umas nunca vão aprender a falar, algumas irão aprender algumas palavras e outras ainda serão capazes de aprender a falar quase corretamente, contudo esta última situação referida apenas será possível caso a criança não tenha estado em total isolamento humano ou, então, que já tivesse aprendido algo antes do isolamento.

GENIE

Genie é o pseudónimo pelo qual ficou conhecida Susan M. Wiley.
Esta “criança selvagem” viveu praticamente os seus primeiros 13 anos em total isolamento da sociedade, acabando por ser descoberta pelas autoridades de Los Angeles em 1970.
Quando foi descoberta, Genie desconhecia a linguagem e obteve um desempenho equivalente ao de uma criança de quinze meses de idade num teste cognitivo.
Com vinte meses idade, altura em que Genie iria principiar a aprendizagem da fala, um médico declarou que aquela criança era lenta e muito provavelmente retardada. O pai de Genie acreditou veemente naquele diagnóstico levando-o até ao limite. Aparentemente, com o propósito de a “proteger”, o pai de Genie privou-a do contacto com a sociedade e a criança passou os seus dias presa a um penico. Sempre que não era esquecida ali, à noite era posta num berço fechado com barras de aço. É de salientar que o seu pai, todas as vezes que Genie tentava “falar”, batia-lhe e impedia qualquer pessoa falar ou dizer algo à criança.
Durante todo esse período, Genie tão teve qualquer estímulo ou contacto linguístico e, devido a este facto, ficou praticamente muda. Após a tentativa de ensino da linguagem, ela apenas era capaz de proferir algumas palavras como “stop” e “no more”.
Atualmente Genie vive num abrigo para deficientes mentais, no sul da Califórnia.
  
VICTOR

Fraçois Truffaut através do filme L’Enfant Sauvage d’Averyon, em português O Menino Selvagem de Averyon, narra a história de Victor, uma criança sensivelmente de 12 anos de idade, que foi descoberta em 1798, por caçadores numa floresta francesa.
A criança acabou por ser levada para Paris, sendo examinada por Pinel, psiquiatra mais famoso da época. Pinel considerou Victor um idiota irrecuperável. Por outro lado, Itard, um jovem médico, era da opinião que a criança poderia recuperar o seu atraso, uma vez que, este teria sido fruto de um isolamento total e não por qualquer inferioridade congénita.
Apoiado na sua crença, Itard mostrou interesse neste caso e requereu a tutela da criança. Apoiado pela sua governanta na sua casa em Batognoles, o jovem médico tentou proceder à educação de Victor na tentativa de desenvolver os seus sentidos e as suas capacidades intelectuais e afetivas.
Os resultados não foram totalmente satisfatórios, mas apesar de tudo, Victor aprendeu, por exemplo, a utilizar a casa de banho, acabou por aceitar usar vestuário humano e até conseguiu aprender a vestir-se sozinho. Embora tenha evoluído imenso, a criança nunca foi capaz de articular mais que um reduzido número de palavras e não mostrava qualquer interesse em brincadeiras típicas da sua idade
Podemos concluir que Victor progrediu, mas essa evolução não foi significativa. A criança acabou por falecer em 1828 com cerca de quarenta anos.


Em suma, podemos concluir que há um período crítico para a aprendizagem da linguagem. Na nossa opinião, o meio tem um papel fundamental em determinados períodos, os chamados períodos críticos.
No que diz respeito às crianças selvagens, a natureza forneceu-lhes a herança genética que as torna humanas, os traços físicos e as parecenças, contudo o meio não as estimulou para se tornarem verdadeiros seres humanos, a nível comportamental, afetivo e cognitivo.
Para concluir, pensamos que estas crianças são exemplo fantástico do facto de que não basta a herança genética para nos tornarmos seres humanos.


A título de curiosidade, aqui fica um pequeno vídeo de um exemplo de como a ficção foi buscar exemplos à realidade:



quarta-feira, 11 de abril de 2012

Mas afinal qual será mais determinante, hereditariedade ou o meio?


Ainda hoje, não existe consenso total no mundo científico acerca de quais as influências mais determinantes para o desenvolvimento humano. Há autores que defendem que a hereditariedade é o fator preponderante e outros, por sua vez, advogam que é o meio que é determinante.
Rousseau defendia que havia ideias inatas, não fosse ele um nativista.
Por outro lado, John Locke, empirista, dava mais importância ao papel do meio. A título de curiosidade, Locke proferiu a seguinte frase: O homem é como um pedaço de barro. Esta expressão significa que, a partir do momento em que as pessoas nascem, podem ser moldadas podendo vir a ter quaisquer características dependendo apenas do meio onde estão inseridas, ou seja, nada é determinado geneticamente.
Já,os Gestaltistas davam maior importância aos fatores genéticos, uma vez que estes são os mais significantes para o estudo dos processos de perceção.
É também de salientar que Henry Goddard foi um dos maiores defensores da hereditariedade. Apresentou o exemplo da família Kallikak para comprovar a sua teoria.
Charles Davenport, fundador da eugenia, advogava que havia genes herdados dos pais para todas características: inteligência, preguiça, motivação, entre outros.
Por fim, John Watson, behaviorista conhecido pela experiência que executou com o bebé Albert, dizia que nada é geneticamente modificado.

Muitas das características do funcionamento dos nossos órgãos e dos nossos comportamentos são transmitidos geneticamente, ou seja, são provenientes dos nossos progenitores através da passagem dessa herança através de genes.
Sendo assim, é pertinente mencionar que o conjunto das determinações herdadas genéticas, isto é, composição genética de um indivíduo, é designado por genótipo.
É de salientar que o fenótipo é determinado pelo genótipo, uma vez que os diferentes genes são influenciados por fatores ambientais. Perante o que foi mencionado podemos concluir que:

Genótipo + Meio → Fenótipo

A característica que torna cada ser humano único e distinto dos demais é a personalidade. Esta característica é dinâmica, já que é fruto de um processo de construção permanente que ocorre durante toda a vida de um ser humano e é resultante quer de influências quer do meio ambiente, quer de influências da hereditariedade (fatores internos e externos respetivamente). Há vários fatores que influenciam a personalidade entres eles:
1.    Influências Hereditárias: Cada sujeito, aquando da sua criação, recebe um património genético proveniente dos seus progenitores constituído por características fisiológicas, morfológicas e sexuais, que fazem com que ele seja singular, influenciando características como, neste caso, a personalidade.
2.      Influências do Meio Social: O comportamento de cada sujeito é marcado pelo processo de socialização conforme os padrões de cultura vigentes sociedade onde está inserido.
3.      Influências das Experiências Pessoais: Todos os sujeitos vivem um conjunto de experiências pessoais. O que vai determinar a personalidade de cada individuo vai depender do significado que cada um atribui às suas experiências, isto é, como cada um as vive e as encara, dependente das suas características psicológicas.

A hereditariedade possui potencialidades que carecem de um meio envolvente favorável para se desenvolverem. Como, por exemplo, as crianças selvagens que crescem entre os animais sem convivência humana não são capazes de andar, falar, nem agir como seres humanos.
Hoje, a questão que se deve colocar é a seguinte: Como é que a hereditariedade e o meio operam nas diferentes fases do desenvolvimento?
Na nossa opinião, já não faz sentido perguntar-se qual o fator mais importante. Ambos são fundamentais, uns têm mais relevância numas circunstancias, outros noutras.

Em suma, uma pessoa é, assim, o resultado da interação permanente  de fatores ambientais (externos) e fatores hereditários (internos). AQUILO QUE SOMOS É O PRODUTO DO POTENCIAL HERDADO E DOS EFEITOS DO MEIO.




Hereditariedade vs Meio no Desporto

Na nossa opinião os fatores genéticos terão maior influência na obtenção de sucesso desportivo do que os fatores ambientais. Pensamos que os atletas de elite já nasceram com uma pré-disposição genética para a prática da sua modalidade desportiva. Normalmente, um grande atleta é filho, ou neto, de outro grande atleta. É claro, que essa pré-disposição terá de ser estimulada ambientalmente através do treino e, deste modo, aprimorá-la cada vez mais. Assim, uma pessoa que não possui essa pré-disposição genética, por muito que treine e se esforce, nunca atingirá os patamares de elite.