quinta-feira, 12 de abril de 2012

Crianças Selvagens, os casos de Genie e Victor

Será preciso admitir que os homens não são homens fora do ambiente social, visto que aquilo que consideramos ser próprio deles, como o riso ou o sorriso, jamais ilumina o rosto das crianças isoladas.
Lucien Malson, Les Enfants Sauvages

Crianças selvagens: são crianças que nos primeiros anos de vida viveram em completo isolamento da sociedade ou, se estiveram em contacto com seres humanos, esse contacto foi insignificante. A vida dessas crianças poderá equiparar-se à dos animais, já que os seus comportamentos são em tudo semelhantes. São crianças que não falam nem, tão pouco, se deslocam como seres humanos normais. No que diz respeito à linguagem em concreto, elas, geralmente, apenas conhecem a mímica e os sons dos animais, particularmente os da sua “família de acolhimento”. Quando essas crianças regressam à sociedade, a sua capacidade para aprender uma língua varia bastante: umas nunca vão aprender a falar, algumas irão aprender algumas palavras e outras ainda serão capazes de aprender a falar quase corretamente, contudo esta última situação referida apenas será possível caso a criança não tenha estado em total isolamento humano ou, então, que já tivesse aprendido algo antes do isolamento.

GENIE

Genie é o pseudónimo pelo qual ficou conhecida Susan M. Wiley.
Esta “criança selvagem” viveu praticamente os seus primeiros 13 anos em total isolamento da sociedade, acabando por ser descoberta pelas autoridades de Los Angeles em 1970.
Quando foi descoberta, Genie desconhecia a linguagem e obteve um desempenho equivalente ao de uma criança de quinze meses de idade num teste cognitivo.
Com vinte meses idade, altura em que Genie iria principiar a aprendizagem da fala, um médico declarou que aquela criança era lenta e muito provavelmente retardada. O pai de Genie acreditou veemente naquele diagnóstico levando-o até ao limite. Aparentemente, com o propósito de a “proteger”, o pai de Genie privou-a do contacto com a sociedade e a criança passou os seus dias presa a um penico. Sempre que não era esquecida ali, à noite era posta num berço fechado com barras de aço. É de salientar que o seu pai, todas as vezes que Genie tentava “falar”, batia-lhe e impedia qualquer pessoa falar ou dizer algo à criança.
Durante todo esse período, Genie tão teve qualquer estímulo ou contacto linguístico e, devido a este facto, ficou praticamente muda. Após a tentativa de ensino da linguagem, ela apenas era capaz de proferir algumas palavras como “stop” e “no more”.
Atualmente Genie vive num abrigo para deficientes mentais, no sul da Califórnia.
  
VICTOR

Fraçois Truffaut através do filme L’Enfant Sauvage d’Averyon, em português O Menino Selvagem de Averyon, narra a história de Victor, uma criança sensivelmente de 12 anos de idade, que foi descoberta em 1798, por caçadores numa floresta francesa.
A criança acabou por ser levada para Paris, sendo examinada por Pinel, psiquiatra mais famoso da época. Pinel considerou Victor um idiota irrecuperável. Por outro lado, Itard, um jovem médico, era da opinião que a criança poderia recuperar o seu atraso, uma vez que, este teria sido fruto de um isolamento total e não por qualquer inferioridade congénita.
Apoiado na sua crença, Itard mostrou interesse neste caso e requereu a tutela da criança. Apoiado pela sua governanta na sua casa em Batognoles, o jovem médico tentou proceder à educação de Victor na tentativa de desenvolver os seus sentidos e as suas capacidades intelectuais e afetivas.
Os resultados não foram totalmente satisfatórios, mas apesar de tudo, Victor aprendeu, por exemplo, a utilizar a casa de banho, acabou por aceitar usar vestuário humano e até conseguiu aprender a vestir-se sozinho. Embora tenha evoluído imenso, a criança nunca foi capaz de articular mais que um reduzido número de palavras e não mostrava qualquer interesse em brincadeiras típicas da sua idade
Podemos concluir que Victor progrediu, mas essa evolução não foi significativa. A criança acabou por falecer em 1828 com cerca de quarenta anos.


Em suma, podemos concluir que há um período crítico para a aprendizagem da linguagem. Na nossa opinião, o meio tem um papel fundamental em determinados períodos, os chamados períodos críticos.
No que diz respeito às crianças selvagens, a natureza forneceu-lhes a herança genética que as torna humanas, os traços físicos e as parecenças, contudo o meio não as estimulou para se tornarem verdadeiros seres humanos, a nível comportamental, afetivo e cognitivo.
Para concluir, pensamos que estas crianças são exemplo fantástico do facto de que não basta a herança genética para nos tornarmos seres humanos.


A título de curiosidade, aqui fica um pequeno vídeo de um exemplo de como a ficção foi buscar exemplos à realidade:



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