Através da interacção entre aprendizagem e maturação (mudanças corporais
por exemplo) ocorre o desenvolvimento psicológico. Por exemplo, é a interacção
destes dois processos que determina, por exemplo, quando a criança está pronta
para andar ou adquirir a linguagem. É de realçar que não é possível a
aprendizagem destas duas competências sem a criança adquirir um certo grau de
maturidade.
Existem diversos autores que advogam
teorias acerca do desenvolvimento da infância e da adolescência:
Freud defendia que o desenvolvimento
da personalidade era devido à interacção com o meio e que existiam períodos
críticos para a aquisição de uma dada competência.
Nancy Bayley advogava que os QIs não
são constantes, sendo que há uma variabilidade maior durante os primeiros anos
de vida. Ou seja, a estabilidade é proporcional à idade.
Benjamin Bloom traçou uma curva de
crescimento com aceleração negativa relativa ao desenvolvimento intelectual
afirmando que é necessária uma intervenção precoce ao nível deste
desenvolvimento. É de realçar também a importância dos períodos críticos e dos
estímulos ambientais.
Hunt afirmava que é fundamental a
criança estar em contacto com variados estímulos para esta se desenvolver intelectualmente,
contudo é de salientar que um excesso de estímulos não será benéfico, tem de
haver um equilíbrio.
Piaget defende que as crianças quando
aprendem um conceito consideram-no uma entidade isolada do meio e que para
aprenderem determinadas conceções algumas estruturas cognitivas já têm de
estar formadas previamente.
Hebb advoga que o cérebro é algo
desorganizado que se organiza lentamente à medida que é estimulado, daí a
importância da experiência precoce no desenvolvimento.
David Krech afirmou que a estimulação
do meio pode incrementar a capacidade de aprendizagem devido às alterações
cerebrais que provoca.
Joseph Altman defensor da neurogénese,
afirmou que se os neurónios forem usados são estimulados e desenvolvem-se cada
vez mais, caso contrário degeneram.
Austin Riesen advogava que o aparelho sensorial deve ser estimulado para
que ocorra o seu desenvolvimento adequado e que essa estimulação assume cada
vez maior importância à medida que progredimos filogeneticamente.
Skinner, comportamentalista, através
do berço que criou (Berço de Skinner) proporcionava ao bebé um ambiente
constante sem grande variedade de estímulos, concluindo que essa variedade é
importante para o desenvolvimento intelectual.
De seguida como o intuito de fazer a
ligação à nossa área (Desporto), apresentaremos algumas conclusões acerca do
desenvolvimento desportivo precoce.
O desenvolvimento
desportivo precoce
Muitos estudos comprovam que a prática de atividades desportivas contribuem
de forma positiva para um desenvolvimento psíquico, social e motor das
crianças. No entanto, está também provado que uma especialização desportiva
precoce e já orientada para a competição pode gerar sérios problemas no
desenvolvimento dos jovens praticantes e igualmente originar o seu afastamento
do desporto. Apesar disso, tem sido crescente a utilização de um treino que
leva a essa especialização precoce, como resultado da necessidade de
auto-afirmação na sociedade de pais, treinadores e instituições ou clubes.
É importante, por isso, entender em que pontos se torna prejudicial esse
desenvolvimento precoce.
Ferreira (2001) lembra-nos que “não podemos esquecer
que o desempenho técnico de uma criança está directamente ligado às suas
possibilidades motoras, ou seja, para exercer total domínio sobre as técnicas
individuais de um desporto será necessário que a criança tenha total domínio
sobre seus movimentos”.
“No momento em que naturalmente vai acabando a
submissão da criança ao pensamento dos adultos, isso na segunda infância, e ela
pode decidir o que quer fazer, ela pára com o desporto. Isso não é
absolutamente preocupante? Por si só, não é motivo suficiente para repensarmos
o processo de iniciação desportiva da criança? E pensar que esse sujeito,
desistindo do desporto na infância, tenderá a não praticá-lo por toda a sua vida.
Tenderá a não incorporá-lo à sua cultura. Tenderá a não praticá-lo nas suas
horas de lazer e entretenimento. No caso de possuir talento, não poderá
usufruir do seu ápice desportivo como atleta, que acontece mais para frente,
dos 24 aos 27 anos”, diz-nos, por sua vez, Cinagawa (1993) sobre outro dos
riscos da competição precoce.
Santana (2001) alerta-nos para outros riscos ainda
mais sérios, como a possibilidade de se prejudicar a criança enquanto ser
humano: “É triste deparar com crianças intranquilas, atingidas por conflitos
e/ou lesões e por isso desistindo ou sendo impedidas de praticar desporto. É
tempo de nos perguntarmos: o sistema permite (ou ignora) as consequências de
uma prática inadequada? Pode o professor, técnico ou pais reduzir a criança a
um mero objecto produtor de resultados, a um potencial e promessa desportiva na
qual deposita as suas aspirações, desejos e vontades?”.
João Bosco da Silva, explica-nos, em Aprender a aprender fazendo (1995), que
podem surgir “graves consequências de ordem neuro-fisiológica, anatómica,
psicológica e pedagógica, pois a ‘formação física específica’ e o ‘rendimento
técnico’ (treino precoce), ao serem prioridades absolutas, deixam de respeitar
a natureza da criança”.
Estando evidentes os riscos e prejuízos, falta-nos
agora entender aquilo que deve ser considerado um desenvolvimento desportivo
precoce:
“É quando a criança faz, sistematicamente, um único
tipo de desporto e encontra aulas que não são diversificadas”, diz-nos Santana
(2004), completando a sua ideia, mais específica, de 2001: “É quando um técnico
tem à sua disposição um grupo de crianças entre os 5 e 12 anos e estabelece
como objectivos ter uma equipa titular e a estrutura técnica e tacticamente para
vencer os adversários e conquistar títulos […] uma iniciativa que vai na mesma
direcção das de pais e dirigentes”. Santana crítica ainda as “competições
regulares, com aprimoramento técnico e conhecimento táctico, tipos de treino que
pressionam a criança a comportar-se como alguém que não é”.
Se Ferreira (2001) nos explica que “o processo de
ensino, para ser eficiente, deve levar em conta o nível de desenvolvimento real
da criança e o seu nível de desenvolvimento potencial adequado à sua faixa
etária, conhecimentos e habilidades que possui”, podemos entretanto concluir
que o treino de crianças tendo como objetivo um resultado competitivo é o
verdadeiro perigo dos tempos actuais. Como fica bem evidente na conclusão
tirada por De Rosa Jr (2002):
“A verdadeira natureza da competição é a que cria mais perdedores do que
vencedores. Nesse ponto, a competição é tanto desencorajadora quanto ameaçadora
àqueles que não possuem capacidades e habilidades suficientes para obter o
desejado sucesso”.
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