segunda-feira, 4 de junho de 2012

Desenvolvimento ao longo da infância e da adolescência


Através da interacção entre aprendizagem e maturação (mudanças corporais por exemplo) ocorre o desenvolvimento psicológico. Por exemplo, é a interacção destes dois processos que determina, por exemplo, quando a criança está pronta para andar ou adquirir a linguagem. É de realçar que não é possível a aprendizagem destas duas competências sem a criança adquirir um certo grau de maturidade.
Existem diversos autores que advogam teorias acerca do desenvolvimento da infância e da adolescência:
Freud defendia que o desenvolvimento da personalidade era devido à interacção com o meio e que existiam períodos críticos para a aquisição de uma dada competência.
Nancy Bayley advogava que os QIs não são constantes, sendo que há uma variabilidade maior durante os primeiros anos de vida. Ou seja, a estabilidade é proporcional à idade.
Benjamin Bloom traçou uma curva de crescimento com aceleração negativa relativa ao desenvolvimento intelectual afirmando que é necessária uma intervenção precoce ao nível deste desenvolvimento. É de realçar também a importância dos períodos críticos e dos estímulos ambientais.
Hunt afirmava que é fundamental a criança estar em contacto com variados estímulos para esta se desenvolver intelectualmente, contudo é de salientar que um excesso de estímulos não será benéfico, tem de haver um equilíbrio.
Piaget defende que as crianças quando aprendem um conceito consideram-no uma entidade isolada do meio e que para aprenderem determinadas conceções algumas estruturas cognitivas já têm de estar formadas previamente.
Hebb advoga que o cérebro é algo desorganizado que se organiza lentamente à medida que é estimulado, daí a importância da experiência precoce no desenvolvimento.
David Krech afirmou que a estimulação do meio pode incrementar a capacidade de aprendizagem devido às alterações cerebrais que provoca.
Joseph Altman defensor da neurogénese, afirmou que se os neurónios forem usados são estimulados e desenvolvem-se cada vez mais, caso contrário degeneram.
Austin Riesen advogava que o aparelho sensorial deve ser estimulado para que ocorra o seu desenvolvimento adequado e que essa estimulação assume cada vez maior importância à medida que progredimos filogeneticamente.
Skinner, comportamentalista, através do berço que criou (Berço de Skinner) proporcionava ao bebé um ambiente constante sem grande variedade de estímulos, concluindo que essa variedade é importante para o desenvolvimento intelectual.

De seguida como o intuito de fazer a ligação à nossa área (Desporto), apresentaremos algumas conclusões acerca do desenvolvimento desportivo precoce.

O desenvolvimento desportivo precoce

Muitos estudos comprovam que a prática de atividades desportivas contribuem de forma positiva para um desenvolvimento psíquico, social e motor das crianças. No entanto, está também provado que uma especialização desportiva precoce e já orientada para a competição pode gerar sérios problemas no desenvolvimento dos jovens praticantes e igualmente originar o seu afastamento do desporto. Apesar disso, tem sido crescente a utilização de um treino que leva a essa especialização precoce, como resultado da necessidade de auto-afirmação na sociedade de pais, treinadores e instituições ou clubes.
É importante, por isso, entender em que pontos se torna prejudicial esse desenvolvimento precoce.
Ferreira (2001) lembra-nos que “não podemos esquecer que o desempenho técnico de uma criança está directamente ligado às suas possibilidades motoras, ou seja, para exercer total domínio sobre as técnicas individuais de um desporto será necessário que a criança tenha total domínio sobre seus movimentos”.
“No momento em que naturalmente vai acabando a submissão da criança ao pensamento dos adultos, isso na segunda infância, e ela pode decidir o que quer fazer, ela pára com o desporto. Isso não é absolutamente preocupante? Por si só, não é motivo suficiente para repensarmos o processo de iniciação desportiva da criança? E pensar que esse sujeito, desistindo do desporto na infância, tenderá a não praticá-lo por toda a sua vida. Tenderá a não incorporá-lo à sua cultura. Tenderá a não praticá-lo nas suas horas de lazer e entretenimento. No caso de possuir talento, não poderá usufruir do seu ápice desportivo como atleta, que acontece mais para frente, dos 24 aos 27 anos”, diz-nos, por sua vez, Cinagawa (1993) sobre outro dos riscos da competição precoce.
Santana (2001) alerta-nos para outros riscos ainda mais sérios, como a possibilidade de se prejudicar a criança enquanto ser humano: “É triste deparar com crianças intranquilas, atingidas por conflitos e/ou lesões e por isso desistindo ou sendo impedidas de praticar desporto. É tempo de nos perguntarmos: o sistema permite (ou ignora) as consequências de uma prática inadequada? Pode o professor, técnico ou pais reduzir a criança a um mero objecto produtor de resultados, a um potencial e promessa desportiva na qual deposita as suas aspirações, desejos e vontades?”.
João Bosco da Silva, explica-nos, em Aprender a aprender fazendo (1995), que podem surgir “graves consequências de ordem neuro-fisiológica, anatómica, psicológica e pedagógica, pois a ‘formação física específica’ e o ‘rendimento técnico’ (treino precoce), ao serem prioridades absolutas, deixam de respeitar a natureza da criança”.
Estando evidentes os riscos e prejuízos, falta-nos agora entender aquilo que deve ser considerado um desenvolvimento desportivo precoce:
“É quando a criança faz, sistematicamente, um único tipo de desporto e encontra aulas que não são diversificadas”, diz-nos Santana (2004), completando a sua ideia, mais específica, de 2001: “É quando um técnico tem à sua disposição um grupo de crianças entre os 5 e 12 anos e estabelece como objectivos ter uma equipa titular e a estrutura técnica e tacticamente para vencer os adversários e conquistar títulos […] uma iniciativa que vai na mesma direcção das de pais e dirigentes”. Santana crítica ainda as “competições regulares, com aprimoramento técnico e conhecimento táctico, tipos de treino que pressionam a criança a comportar-se como alguém que não é”.
Se Ferreira (2001) nos explica que “o processo de ensino, para ser eficiente, deve levar em conta o nível de desenvolvimento real da criança e o seu nível de desenvolvimento potencial adequado à sua faixa etária, conhecimentos e habilidades que possui”, podemos entretanto concluir que o treino de crianças tendo como objetivo um resultado competitivo é o verdadeiro perigo dos tempos actuais. Como fica bem evidente na conclusão tirada por De Rosa Jr (2002):
“A verdadeira natureza da competição é a que cria mais perdedores do que vencedores. Nesse ponto, a competição é tanto desencorajadora quanto ameaçadora àqueles que não possuem capacidades e habilidades suficientes para obter o desejado sucesso”. 

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